Sete agências da Organização das Nações Unidas (ONU), em conjunto com lideranças indígenas, governos e parceiros, lançaram oficialmente, nesta quinta-feira (25), no município de São Gabriel da Cachoeira, região do Alto Rio Negro, as primeiras ações do projeto “Proteção Integral e Promoção dos Direitos de Crianças, Adolescentes e Jovens Indígenas na Amazônia Legal”, financiado pelo Fundo Brasil-ONU para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia.
O município amazonense de São Gabriel da Cachoeira, o mais indígena do País, foi escolhido para o lançamento do programa por ser considerado um lugar de resistências e saberes. Nas feiras, na rua central da cidade e nas portas das casas, farinha e frutas se misturam ao artesanato produzido com grafismos que carregam histórias ancestrais.
No alto da Pedra da Cosama, de onde se vê o rio Negro em toda a sua força e beleza, a sensação é de que o tempo se alonga para caber no pôr do sol entre montanhas e corredeiras da serra do Cabari, atrativos turístico de São Gabriela da Cachoeira.
A Casa de Saberes Indígenas (Maloca) da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) se tornou espaço de diálogo, escuta e construção coletiva durante três dias no evento Diálogos Fundo Brasil-ONU no Alto Rio Negro: Encontro sobre Saúde e Proteção dos Povos Indígenas, lideranças locais trouxeram suas prioridades para o futuro e a necessidade de reforçar políticas públicas existentes; jovens comunicadores defenderam a importância do fortalecimento das línguas indígenas da região; parteiras e agentes de saúde compartilharam saberes e desafios; artesãos explicaram suas dificuldades e o injusto retorno financeiro dos materiais produzidos.
“Nós, jovens comunicadores, queremos mostrar que a comunicação também é uma forma de resistência. Com nossas câmeras e microfones, ajudamos a manter vivas as nossas línguas e histórias”, disse Jucimery Garcia, uma das jovens da Rede Wayuri e coordenadora do Departamento de Adolescentes e Jovens Indígenas do Rio Negro (DAJIRN), impressionando o público com sua assertividade.
No mesmo espaço, as parteiras trouxeram sua voz. “A parteira não é apenas quem ajuda a nascer. É quem segura a vida junto da comunidade. Quando somos reconhecidas, todo o nosso povo é fortalecido”, contou uma delas, recebida com aplausos.
As lideranças reforçaram a importância de manter a escuta aberta, não apenas no evento, mas em todo o processo que o projeto pretende construir. “Escutar é tão importante quanto falar. O que pedimos aqui é que nossas vozes continuem sendo ouvidas, não apenas durante o evento, mas em cada ação que será realizada”, destacou uma das seis lideranças indígenas presentes no evento de abertura do projeto (Baré, Baniwa, Kokama, Ticuna, Tukano e Yanomami).
Ao falar sobre os Espaços Seguros, Odimara Tukano emocionou o público ao explicar que a proteção nasce também das relações comunitárias:
“Espaço seguro não é só um lugar físico. É quando uma criança ou jovem pode sentir confiança em alguém da comunidade. Muitas vezes, nem a família é vista como esse espaço. Nós, como mulheres e lideranças, precisamos ser esse porto seguro.”
As falas se entrelaçaram com compromissos práticos: definição de territórios prioritários, capacitação de agentes indígenas de saúde e parteiras, início da estratégia de Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI) e fortalecimento da rede de proteção de crianças e adolescentes indígenas.
“Esta semana abrimos um espaço de conversa fundamental, com rodas de diálogo em que os próprios povos indígenas compartilharam suas necessidades e prioridades. Esse momento reforça nosso compromisso de seguir ouvindo, aprendendo e construindo juntos”, afirmou o representante do UNICEF no Brasil, Youssouf Abdel-Jelil.
O projeto atuará em todos os seis eixos que o contemplam em São Gabriel da Cachoeira, por isso a escolha do local para iniciar as atividades — integrando saúde, educação, proteção, governança, juventude e biodiversidade. O objetivo é ambicioso: fortalecer políticas públicas, reduzir desigualdades e garantir que crianças, adolescentes, jovens, migrantes e refugiados indígenas tenham acesso a direitos, oportunidades e um futuro sustentável.
Na cabeceira do Rio Negro, conhecida como “Cabeça do Cachorro”, a primeira ação do Fundo Brasil-ONU ecoa como um marco: um trabalho conjunto, construído lado a lado com os povos da Amazônia, para que suas vozes, culturas e modos de vida sigam vivos e fortalecidos para as próximas gerações.
As sete agências da ONU que estão participando do projeto são:
- UNESCO,
- UNFPA,
- ACNUR,
- OIT,
- OIM
- OPAS/OMS,
- UNICEF, a líder das ações
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